
Os anos 1970 e o feminismoNa segunda metade dos anos 60, os Estados Unidos viveram diversas transformações sócio-culturais, que tiveram efeito principalmente na indústria do entretenimento. Infelizmente, a DC Comics demorou um pouco pra se atualizar ao momento histórico. Quando foram ver, as revistas do Superman não eram as mais vendidas entre os quadrinhos, e a Marvel e seus heróis com problemas pessoais eram a crista da onda.Sendo assim, no inicio dos anos 70, uma nova geração de artistas tratou de imprimir “verossimilhança” aos heróis da DC. Batman, Patrulha do Destino, Lanterna e Arqueiro Verde foram as séries com melhores resultados nesse quesito. O mesmo foi tentando nas séries do Superman. Em meio ao crescente movimento feminista, Lois Lane passou a exprimir o novo comportamento da mulher.Ela voltava a ser a melhor repórter do Planeta Diário, se vestia com roupas um tanto masculinas, não usava maquiagem, diversas vezes era vista fumando e conseguia ser extremamente ácida e perspicaz quando estava de serviço. Na verdade, ela se derretia apenas por uma coisa: Superman. Clark Kent se cansou de tentar conquistar Lois, e até saiu do Planeta e virou apresentador de telejornal, para onde também foi Lana Lang.Enquanto Lana fazia a maioria das vezes de “donzela em perigo”, Lois Lane voltava a fazer reportagens sobre o mundo do crime, às vezes se metendo em apuros é verdade, mas outras vezes, conseguindo se safar sem o herói. Em determinado momento dos anos 70, Superman e Lois admitiam que se amavam, e até trocavam uns beijos. Mas ela nunca fez a relação entre o herói e Clark Kent, e o herói jamais se conformou com isso.Em muitos aspectos foi essa Lois Lane que acabou retratada pela atriz Margot Kidder no fabuloso filme do Superman, em 1978. Ela podia ser sarcástica e sem piedade com Clark Kent, mas sempre seria a menina deslumbrada quando o herói a carregava num vôo sobre Metrópolis. O filme, por sua vez, teria enorme influência na reformulação da jornalista quando pelas mãos de John Byrne, em 1986.Depois da Crise: um novo Superman e uma nova Lois LaneEm 1985, a DC Comics decidiu reformular totalmente seu universo de personagens, se livrando do peso de anos de cronologia, que no seu entender afastava o surgimento de novos leitores. Para “repaginar” seus heróis contratou artistas de renome dentro da indústria para recontarem as origens e estabelecerem outra visão sobre o Superman, Batman, Mulher-Maravilha, entre outros.Coube ao canadense John Byrne a difícil tarefa de reapresentar o Superman para uma nova geração de leitores. Seu principal objetivo foi “humanizar” o personagem, tornando sua personalidade humana, Clark Kent, mais importante do que seu nome alienígena (Kal-El) ou até mesmo que o herói uniformizado, Superman.Na nova origem do Homem de Aço, o primeiro encontro de Lois e Clark é quando ele salva a vida da jornalista, que estava caindo junto com um ônibus espacial. Ainda não existia o Superman, apenas um jovem anônimo que utilizava seus poderes secretamente para salvar o mundo, incógnito. Mas agora Lois Lane, e vários outros repórteres viram seu rosto, e ele jamais poderá voltar ao anonimato. É dessa forma que Jonathan Kent tem a idéia de disfarçar o rosto de seu filho com óculos, um cabelo penteado para trás, esconder a altura e o porte físico, e falar diferente, timidamente, num tom mais baixo e menos confiante.Assim, quando Lois Lane encontra o recém-contratado Clark Kent no Planeta Diário até percebe uma certa semelhança, mas ao tentar pensar no assunto, julga impossível que aquele “molenga” grandalhão, possa ser o Superman. No máximo, seria um cara parecido com o Superman. E ademais, porque alguém como o Superman andaria disfarçado por aí?A Lois Lane pós-John Byrne não está mais preocupada em descobrir a identidade secreta do Superman, simplesmente porque ninguém desconfia que ele teria uma identidade secreta. Outra característica desse período, é que Lois, embora secretamente atraída pelo herói, não revela seus sentimentos; Ao mesmo tempo, Clark Kent admite gostar da moça, mas a rivalidade entre ambos no jornal cria uma primeira barreira – até porque na nova versão, Clark Kent consegue seu emprego após fazer a primeira entrevista com o Superman da história, ou seja, ele entrevistou a si mesmo.Mas após esse “deslize” de ética jornalística, Clark Kent procura fazer menos matérias com o Superman, permitindo que Lois Lane seja a repórter com maior cobertura sobre o assunto, ganhando assim o apelido de “namoradinha do Superman”, que ela oficialmente não gosta, mas intimamente se sente lisonjeada.Conforme Byrne afirmou anos mais tarde, suas principais influências para a reformulação de Lois Lane foram a atriz Margot Kidder e a Lois Lane original, do final dos anos 30, conforme foi criada por Jerry Siegel e Joe Shuster: “Ela não era simplesmente uma cabeça de vento. Ela se metia em encrencas porque era corajosa e estava trabalhando”, comentou o autor.Embora depois de Byrne a heroína tenha passado por diversos autores, ela basicamente mantém essas características: é uma repórter corajosa e competente, uma mulher independente e muito segura de si, e em muitos aspectos menos inocente sobre a vida e as pessoas, ao contrário do Superman.Sua história pessoal foi muita enriquecida nesse período: descobrimos que ela tenta trabalhar no Planeta Diário desde que tinha 13 anos de idade, e já era uma repórter veterana, quando Clark Kent deu as caras por lá. Seu pai é o general linha dura Sam Lane, que sempre quis ter um filho, mas acabou com duas filhas, e talvez por isso Lois sempre se esforçou em demonstrar independência e garra, o que seu pai esperaria de um homem. Sua mãe foi funcionária da Lexcorp. E o milionário Lex Luthor, mas de uma vez tentou ganhar a repórter, mas falhou miseravelmente.Nos primeiros anos pós-reformulação, Clark Kent teve certa concorrência para o coração de Lois Lane. Não bastasse as cantadas baratas do milionário Lex Luthor, Lois acabou namorando José Delgado, o herói conhecido como Predador. Depois de um período exilado no espaço, Lois aparentemente desistiu do “inatingível” e distante Superman, e Clark Kent finalmente conseguiu um relacionamento. Após algum período de namoro, o herói finalmente encarou que era hora de revelar a verdade – que ele era o Superman – e Lois até que encarou bem, afinal ela acreditava que amava dois homens diferentes, e percebeu que eram a mesma pessoa.As coisas aconteceram relativamente rápido no “pós-Crise”. Após 50 anos de “namoro”, Clark pediu Lois em casamento, e os dois se casaram praticamente ao mesmo tempo nos quadrinhos e na TV, quando o seriado Lois & Clark estava em alta. Aliás, há uma “história secreta” sobre o casamento. Lois e Clark deveriam se casar em 1992, mas esse era o ano em que começou a se planejar a nova série de TV. Então, a Warner pediu para “segurarem” o desenlace matrimonial, e a DC teve que desenvolver uma nova história. Foi assim que nasceu “A Morte do Superman”.
A série de TV “Lois & Clark: As Novas Aventuras do Superman” teve cinco temporadas e relativo sucesso, principalmente entre o público adolescente. Sua principal premissa era o relacionamento profissional – e mais tarde romântico – entre os protagonistas. A personagem da bela atriz Teri Hatcher, um dos grandes motivos para o sucesso da série, era tão ou até mais importante que seu partner, Dean Cain, que fazia Clark Kent. A maioria das histórias girava em torno das reportagens de Lois e Clark, que trabalhavam como uma dupla, inicialmente como rivais, mais tarde como colegas e depois amantes. Lex Luthor era o principal vilão da série, mas também interesse romântico de Lois na primeira temporada, e depois retornaria algumas vezes sempre com o plano de seqüestrar a heroína e a convencer a reatar o romance.O grande episódio da série foi o casamento de Lois e Clark. Ao mesmo tempo, uma edição luxuosa chegava às bancas dos Estados Unidos. No Brasil, chegou até a rolar um “convite de casamento” para alguns felizardos. Desde a morte do Superman, um evento dos quadrinhos nunca ganhou tanta cobertura da imprensa, mostrando que Lois Lane, sem dúvida, era a “namorada de herói” mais famosa dos quadrinhos, quiçá da ficção mundial.Após o matrimônio, os laços de companheirismo entre o casal se estreitaram ainda mais, e Lois Lane mais do que nunca é uma companheira de aventuras do Superman, sendo sua principal conselheira, e muitas vezes até salvando a vida do herói. Até mesmo na série de TV Smallville, que retrata a juventude de Clark Kent, Lois Lane já andou dando as caras, desbancando, aos poucos, a personagem de Lana Lang, que começou como principal coadjuvante do programa. Comenta-se, inclusive, que o seriado irá terminar justamente no momento que Clark Kent assume a identidade de Superman e começa a namorar Lois Lane. Sorry, Lana.A mais importante “nova virada” na vida de Lois, no entanto, pode vir em decorrência do novo filme do Homem de Aço. Afinal, agora ela aparece com um filho. Boatos apontam para uma gravidez de Lois Lane também nos quadrinhos. Será que o próximo passo é Lois se tornar uma supermãe?Enquanto Joe Quesada amaldiçoa o casamento do Homem-Aranha, na DC ninguém tem dúvidas que o matrimônio só fez bem para o Homem de Aço. Afinal, eles já enrolaram por 50 anos! Todo mundo sabe que Clark Kent e Lois Lane foram feitos um para o outro.Lois Lane sempre é considerada como “o maior laço de Clark Kent com a humanidade”. Na maioria absoluta das histórias alternativas, quando o Superman abandona a Terra, ou deixa de ser herói, é porque Lois morreu. Seja em O Reino do Amahã, Gerações, Super Seven, entre outros Elseworlds, Lois é “o centro”, provavelmente a maior prova da humanidade de Kal-El. Diversas vezes ele poderia ter acertado com “parceiras a altura” da sua estatura divina, como Máxima ou a Mulher-Maravilha. Mas ele sempre escolheu Lois, assim como escolheu ser humano a kryptoniano, sempre escolheu mais o “Homem” do que o “Super”.
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